DNA do K-POP

Um Manual para entender o gênero musical que está se tornando uma subcultura mundial

Créditos: BigHit Entertainment/Youtube

Trecho do Music Video "DNA" do grupo BTS

História o Kpop

Se você não sabe nada sobre K-pop, mas usa a internet, provavelmente não entende porque o twitter está tomado por perfis com coreanos de cabelo colorido e o que são todos os vídeos dançantes em seu feed. Mas não se preocupe, você acaba de encontrar seu manual para descobrir o mundo do K-pop. O gênero musical que se espalhou da Coreia do Sul para o mundo na última década, representa mais do que letras e batidas. É percebido por especialistas como uma subcultura em ascensão, força diplomática e bilhões de dólares em movimento. Confira a linha do tempo sobre como tudo surgiu e ganhou forças.

O pop antes do K-pop

Na década de 80 a Coreia ainda era muito conservadora com entretenimento. A música pop era influenciada pelo estilo norte-americano, que chegou através dos soldados. A cultura pop era controlada pela censura do ditador Park Chung Hee e continuou mesmo depois de seu assassinato em 1979. Shows de talento eram comuns, nos únicos três canais de TV existentes, mas só poderiam ir ao ar se a música fosse patriota ou “inofensiva"

Precursores do gênero

Por isso quando o grupo Seo Taiji & Boys lançou seu 1º álbum (“Nan Arayo!”), no programa da MBC, em 1992, chocaram todo o país. O motivo? Pela primeira vez, adolescentes dançavam e cantavam hip-hop em TV nacional. A dança não era bem vista pelas gerações mais velhas, e com certeza, o tom de protesto das letras também não agradaram.
Mas o sucesso foi inevitável e estrondoso. O grupo marcou o começo de uma revolução cultural na Coreia do sul.
Legenda: Apresentação da música “I Know” em 1992 na emissora de TV KBS2 Créditos: KBS KPOP Classic/ Divulgação

K-pop dos anos 90 e Revolução Cultural

Os ritmos misturavam gêneros como rap, seoul, rock, techno, punk e trot (ritmo tradicional coreano). As letras de denúncia a sociedade conservadora coreana muitas vezes foram censuradas. Eles também foram os primeiros artistas a incorporar a música eletrônica com o sistema MIDI (Interface Digital de Instrumentos Musicais) na Coreia. Mas essa não era a única revolução que trouxeram. Tudo em sua estética, do corte de cabelo à vestimentas, era copiado pelos jovens de todo o país. Então em 1996 eles se aposentaram, deixando fãs desesperados. Com um clipe de despedida e seu quarto álbum concluíram as atividades do grupo. Mas era apenas o começo.
Legenda: Capa e matéria da revista Toto Journal. "Eles são crianças, mas profissionais" a tradução literal para o nome do grupo é SeoTaiji e as crianças (moleques) Foto:SeoTaiji/Acervo

Envolvimento do Governo

No ano seguinte, 1997, a crise asiática, considerada a primeira crise do mundo globalizado, atingiu a Coreia com tudo. O governo então usa a mesma ideia de Lee Soo Man, exportar cultura como seu novo produto. Em 1999, um decreto chamado “Ato formal de promoção das indústrias culturais” foi criado. Mas não era só sobre K-pop, de acordo com os pesquisadores de cultura coreana, Kim Tae-Young e Jin Dal-Yong, quando a novela “What Is Love All About” alcançou 4,7% de audiência na China, em 1997, o governo viu a força da cultura pop coreana no exterior (chamada de Hallyu)

Surge a Big 3

Com incentivos estatais, empresas como a SM (1995), JYP (1996) e YG (1997), chamadas de Big 3, começam a crescer rapidamente e produzir grupos de sucesso. Sendo a SM, fundada por Lee Soo Man (aquele que lançou H.O.T.), e a YG, fundada por ninguém menos que Yang Hyun-suk, um dos membros do grupo pioneiro, Seo Taiji and Boys.
Na foto: Da esquerda para direita. Logo da JYP e seu fundador Park Jin-young, conhecido como J.Y. Park. Logo da YG e seu fundador Yang Hyun-Suk. Logo da SM e seu fundador Lee Soo-Man

1ª do K-pop: Grupos Masculinos

Assim se iniciou a 1ª Geração do k-pop (1992 - 2000). Além do Seo Taiji & Boys e H.O.T. outros boygroups se estabeleceram com sucesso, como o sexteto Sechskies (1997-2000) e Shinhwa (1998-presente), o sexteto, em atividade há 22 anos, nunca alterou sua formação, apesar de ter mudado de empresa duas vezes, eles são um exemplo de união para vários grupos atuais. O solista Rain começou sua carreira no grupo FanClub em 1998, é considerado um dos maiores artistas da Coreia do Sul e foi precursor também no ocidente, com sua atuação e performances marcantes ele ainda está em atividade

1ª Geração do K-pop: Grupos Femininos

As mulheres também dominaram a cena logo no começo. Em 1997, a SM lançou o trio femenino S.E.S em resposta ao H.O.T. No mesmo ano o quinteto Baby V.O.X. foi lançado, mas elas só estouraram depois de abandonar o conceito sexy e adotar uma imagem mais modesta e fofa em 1999. O grupo chegou a se apresentar na Coreia do Norte em 2003. Mesmo depois do fim do grupo, em 2006, as integrantes seguiram na indústria do entretenimento. Fin.K.L., lançado em 1998, foi um dos girlgroups mais prestigiados da 1ª geração. A integrante Lee Hyori ainda é uma das solistas de maior sucesso do país

A Rainha do K-pop

Entre a primeira e segunda geração do K-pop está Kwon Bo-ah, mais conhecida como BoA, acrônimo para “Best Of Asia” (Melhor da Ásia). A cantora começou sua carreira em 2000 com 13 anos sob o selo da SM Entertainment. BoA foi a primeira artista sul-coreana a estourar no mercado japonês desde a imposição de barreiras entre os países após o fim da Segunda Guerra Mundial. Depois de sua estreia em solos nipônicos ser bem sucedida, outros artistas viram nisso uma oportunidade e começaram a investir no Japão e em outros países asiáticos. Por causa disso, a relação política e cultural entre os dois países melhoraram e japoneses começaram a se interessar pelo Hallyu através de BoA

2ª Geração do K-pop

As datas que delimitam as gerações do K-pop servem apenas como guia. Mais importante do que o ano, são as características que moldaram os grupos de cada era e a transição de tendências. Nesse sentido a revista coreana “Idology”, especializada em K-pop, fez uma classificação, que é a mais aceita. Em um primeiro momento da segunda geração, entre 2001 e 2007, o K-pop recebeu ainda mais investimentos para se estabelecer como produto de exportação e o número de gravadores aumentou muito. O grupo TVXQ (2003), por exemplo, marcou essa fase com sua popularidade na Ásia. Já o “Wonder Girls” (2007) quebrou vários recordes nos E.U.A. Outros grandes grupos como “Super Junior” (2005), “SS501” (2005), “BIGBANG” (2006), “Brown Eyed Girls” (2006), “Girls’ Generation” (2007) e “KARA” (2007) também impactaram essa transição. Legenda: Dream Concert no Japão em 2010 reuniu grandes artistas. Créditos: Dream Concert BroKore Japan/ Divulgação

Geração 2.5 do K-pop

Mais tarde, entre 2007 e 2012 os artistas passaram a aparecer mais em reality shows e dramas, assim a concepção de “Idol” (Ídolo) de K-pop se estabeleceu. A divulgação dos grupos ficou mais sistemática, assim como a assiduidade de lançamentos. Além dos grupos da primeira fase, artistas como “Hyuna” (2007), “SHINee” (2008), “2PM” (2008), “IU” (2008), “2NE1” (2009), “f(x)” (2009), “4minute” (2009), “T-ara” (2009), “Sistar” (2010), “miss A” (2010), “Infinite” (2010) também caracterizam essa era de ascensão no Youtube e uma relação mais estreita com fãs. Legenda: Compilado de clipes populares de 2007 a 2012

"Oppa Gangnam Style!"

Mesmo com investimentos e o crescimento exponencial do K-pop através dos anos, especialistas da área ainda não conseguem explicar porque o vídeo “Gangnam Style”, do artista solo PSY, viralizou em 2012. O hit, que na verdade é uma crítica a elite de Seul, obrigou o Youtube a aumentar o número de visualizações para a casa dos bilhões e manteve o posto de vídeo mais visto da plataforma até 2015. PSY debutou em 1999, na primeira geração do K-pop, mas não seguiu as tendências de participar de um grupo e fazer danças elaboradas. Pelo contrário, ele se concentrou na carreira de humorista e produtor musical. Mesmo sendo um pouco diferente do gênero em geral, o estouro de “Gangnam Style” é percebido como um ponto de virada para o K-pop, apesar de não ser responsável por atrair fãs em massa, o fenômeno estreitou as relações com a mídia ocidental, criando novas oportunidades

3ª Geração do K-pop

Essa geração também pode ser divida em duas parte. As principais características da transição, entre 2010 e 2014, incluem: disparo do crescimento no mercado Latino, popularização nas redes sociais e grandes turnês mundiais. Alguns dos grupos com maior expressão são: “EXO” (2011), “Block B” (2011), “NU’EST” (2012), “VIXX” (2012), “BtoB” (2012), “AOA” (2012), “EXID” (2012), “WINNER” (2013), “BTS” (2013), “GOT7” (2014), “Red Velvet” (2014), “Mamamoo” (2014) “GFRIEND” (2014) e “Dreamcatcher” (2014)

Geração 3.5 do K-pop

Entre 2014 e 2018, a geração é marcada pelo sucesso de reality shows musicais de competição ou que formam grupos como “Produce 101”. Depois de 2016 o K-pop disparou em pesquisas no Google, Twitter e Youtube. As vendas também cresceram, assim como o turismo para a Coreia do Sul. Além do sucesso estrondoso do “BTS”, outros artistas conquistaram legiões de fãs mundialmente. O esforço crescente das outras gerações para estourar a bolha do ocidente trouxe resultado. Fechando a terceira geração com chave de ouro os principais artistas são: “Twice” (2015), “Ikon” (2015), “Monsta X” (2015), “SEVENTEEN” (2015), “CLC” (2015), “Blackpink” (2016), “NCT” (2016), “SF9” (2016),, “Pentagon” (2016), “Loona” (2016), “Kard” (2016), “Astro” (2016), “Stray Kids” (2017), “Wanna One” (2017), “I.O.I.” (2017), “G-Idle” (2018), “Ateez” (2018), entre outros

4ª Geração e o Futuro

A quarta geração do K-pop ainda está em formação. As classificações são diferentes e não existe um consenso absoluto ou uma fonte oficial. Mas é notável que desde 2016 o K-pop está passando por uma transição focada para o mercado externo. A conquista do do Oscar pelo filme “Parasita” e o sucesso contínuo e crescente do “BTS”, já estão afetando o mercado. O foco na relação online com os fãs locais e globais será provavelmente a característica dessa geração. Alguns nomes que já estão em alta são: “Stray Kids” (2017), “The Boyz” (2017), “Ateez” (2018), “G-Idle” (2018), “Iz*ONE” (2018), “TXT” (2019), “ITZY” (2019), e “Everglow” (2019)

O pop antes do K-pop

Precursores do gênero

K-pop dos anos 90 e Revolução Cultural

Envolvimento do Governo

Surge a Big 3

1ª do K-pop: Grupos Masculinos

1ª Geração do K-pop: Grupos Femininos

A Rainha do K-pop

2ª Geração do K-pop

Geração 2.5 do K-pop

"Oppa Gangnam Style!"

3ª Geração do K-pop

Geração 3.5 do K-pop

4ª Geração e o Futuro

O QUE É K-POP?

Afinal de contas que diferença esse “K” faz efetivamente na música? Não seria o K-pop apenas um pop em outra língua? A resposta é não, essa letra representa muito mais do que a nacionalidade do gênero. Musicistas e especialistas de todo mundo ainda tem dificuldade em acertar uma definição, mas concordam que K-pop não é apenas um gênero musical, mas um produto de mercado, um conceito e uma tribo global em ascensão

Ingrediente além do "K"

É claro que produzir um grupo ou artista não é simples como fazer um bolo, mas existe sim um sistema que define o que é K-pop. Segui-lo com maestria pode definir o sucesso.

O que é K-pop

Grupos

Harmoniosos

K-pop só tem esse título no resto do mundo, porque na Coreia é chamado de Idol group (아이돌 그룹), provando que uma das principais características do gênero é a formação de grupos.
Idol (inglês para ídolo), é o artista, eles podem ter carreira solo e ainda sim serem estrelas do K-pop, mas geralmente são parte de um grupo ou começaram em um.

Organizar talentos em um conjunto não é uma exclusividade da Coreia do Sul. A gravadora Norte Americana dos anos 60, Motown Records, já fazia isso com os sucessos “The Supremes”, “The Temptations” e “The Jackson Five”. Nos anos 90 e 2000 "Backstreet Boys" e "Spice Girls" trouxeram de volta a mania dos grupos, inspirando inclusive alguns na Coreia no início de tudo. Até pouco tempo o grupo "One Direction" era uma sensação global e as girlbands, "Fifth Harmony" e "Little Mix" ainda estão ativas nos EUA e Inglaterra. Mas nenhum desses usa o mesmo sistema do K-pop

Audições E Recrutamento

As empresas de entretenimento tem olheiros sempre à postos em bairros como Hongdae, onde jovens praticam Buskin (performance de rua). E além dos caça-talentos espalhados por aí, várias audições acontecem por ano, na Coreia e no mundo, inclusive no Brasil.

Em 2019 a empresa do BTS, a BigHit Entertainment realizou audições para seu novo grupo feminino. Os recrutas visitaram 15 cidades do mundo, 12 na Ásia, duas nos EUA e uma na Austrália. A FM Entertainment, empresa do Grupo M.O.N.T. não deixou a pandemia do COVID-19 atrapalhar seu recrutamento de 2020 e convocou audições online abertas para qualquer menino nascido a partir de 1999, falante da língua coreana.

Anúncio da audição global da empresa BigHit, em 2020

Treinamento

Depois de passar por esse processo os recrutados se tornam Trainees. Geralmente eles precisam conciliar a vida escolar com horas puxadas de ensaios e aulas de dança, canto, atuação e idiomas. Cada empresa tem seu estilo de treinar, mas é de conhecimento comum que essa formação é sempre difícil e exige muito fisicamente e emocionalmente dos aspirantes.

Durante esse tempo, que varia de meses a anos, os adolescentes ficam em dormitórios com outros colegas. Além dos treinos pesados, várias exigências são feitas como padrões estéticos exigentes e restrições de namoro. A vida deles é completamente dedicada ao sonho de debutar. Mas fechar contrato com uma grande empresa não significa estrear, muitos trainees se dedicam durante anos e acabam sendo dispensados ou desistem depois de atingir seus limites.

Montagem

Depois de treinar e agradar CEOs e investidores, os trainees são designados aos grupos de acordo com suas habilidades e característica. Cada pessoa exercerá uma função específica e ocupará um papel em relação aos outros membros e aos fãs.

Jihyo

Líder do "Twice" Créditos: JYP Entertainment/Divulgação

Jihyo

Líder do "Twice" Créditos: JYP Entertainment/Divulgação

1/1

Líder

Sua autoridade varia de acordo com a estratégia da empresa, podendo ter uma voz realmente ativa em decisões administrativas, conceito de marketing e até escolha de outros membros. Ou ser uma função mais simbólica e interna (entre o grupo e não na empresa). Independente de como for, o líder é o porta voz em entrevistas e premiações, cuida dos outros membros e defende seus interesses. Muitas vezes é quem treinou por mais tempo ou o mais velho. É escolhido pela empresa de acordo com sua maturidade, capacidade de falar em público (e em outras línguas) e de liderar os outros membros.

Uma pessoa pode assumir mais de um papel ou várias exercerem a mesma função, o tamanho do grupo e qual é o seu foco na indústria influenciam isso diretamente.

Além disso, na prática essas funções não são seguidas à risca, tudo depende da estratégia da empresa. Todos são treinados para fazer tudo, mas assumem posições específicas, o motivo é incentivar o aperfeiçoamento de habilidade específicas e impor limites profissionais que facilitam o trabalho em equipe.

Com os anos de carreira a dinâmica também acaba mudando, um exemplo disso é Kyuhyun do grupo Super Junior, ao desenvolver suas técnicas de dança ganhou o papel de Dançarino Principal que não tinha antes. No decorrer da carreira um membro pode sair por problemas pessoais, escândalos ou por problemas de saúde e outro precisa assumir sua posição.

É comum em programas de rádio e TV ver idols brincando sobre essas funções, principalmente as de estética e idade. Fãs costumam cobrar as empresas quando um idol não tem oportunidades de exercer sua função.

Alguns grupos também têm posições e frentes específicas. O Stray Kids, por exemplo, tem uma frente de produtores, pois também escrevem suas letras, raps, compõem melodias e mixam samples.

Siglas

Mesmo não sendo uma regra, alguns grupos usam siglas no nome pensados para o público global. Assim mesmo que a pronúncia ou significado fiquem diferentes em outras línguas ainda é fácil criar uma conexão.

Exemplos:

H.O.T (1996): High Five of Teenagers

BTS (2013): Bangtan Sonyeondan (Garotos a prova de balas) em Coreano
Em inglês a tradução de “Bulletproof Boy Scouts” foi alterado para “Beyond The Scene”

SF9 (2016): Sensational Feeling 9

Sub Units

(Subgrupos): Além da criação do grupo, algumas empresas criam também “units”. Como o nome sugere, são unidades, formadas por membros, com intuito de promover para um público específico ou com um conceito diferente. As formações são variadas.

Pequenas divisões dentro de um grupo: O grupo EXO estreou em 2011 com duas divisões. EXO-K, composto por 6 integrantes que cantavam em coreano e EXO-M, outros 6 membros que cantavam em Mandarim e performavam na China. Mas com a saída de três membros, essas unidades se juntaram como EXO.

Em 2016 foi lançado o EXO-CBX, composto por três integrantes (Chen, Baekhyun e Xiumin). Em 2019 outra “unit” surgiu, EXO-SC, (Sehun e Chanyeol).

Pessoas de diferentes grupos formando uma unit: A Cube Entertainment montou um coed group (grupo misto, com homens e mulheres) chamado Triple H em 2017. Formada por dois membros do grupo masculino Pentagon (E’Dawn e Hui) e uma cantora solo (Hyuna). O grupo acabou em 2018 quando Hyuna e Dawn saíram da empresa devido a um “escândalo” de namoro entre os dois.

Supergrupos: Outro exemplo de sucesso é o SuperM da SM Entertainment, que juntou em um supergrupo (um grupo formado por artistas de grande nome), Taemin do grupo Shinee, Baekhyun e Kai do EXO, Taeyong e Mark do NCT 127, e Ten e Lucas do WayV (Subunit do NCT). O grupo está fazendo muito sucesso internacionalmente e quebrou vários recordes de venda. Confuso? Ainda tem mais.

O grupo NCT é pioneiro em fazer um grupo com conceito infinito, ou seja, novos membros sempre entram para o grupo nunca acabar. Para isso eles criaram dois tipos de Subunits, a rotativa e a fixa. A primeira a ser criada foi a NCT-U, que muda seus integrantes de acordo com o conceito do álbum. A segunda foi a NCT 127, que tem membros fixos e é baseada na capital da Coreia do Sul (127 é a longitude de Seoul). Depois a unit composta pelos mais novos, NCT Dream, também rotativa, pois os idol só participam até completar 19 anos. E o mais recente, WayV focado para o mercado chinês.

Ainda existem conceitos temporais, que se apresentam pela NCT U, como a NCT 2018 e NCT 2020, que promovem apenas por um ano. Esse ano o NCT 2020 é composto por todos os membros (das 4 units) e mais dois novos artistas, somando 23 pessoas.

O NCT está fazendo muito sucesso comercial na Coreia e internacionalmente, provando que a estratégia, mesmo que um pouco complexa e até confusa para os fãs, deu certo.

Grupos Harmoniosos

Marca e Conceito

Depois que o grupo está pronto é hora de definir um conceito. É necessário achar uma história que combine com cada integrante e que represente o grupo, principalmente no início, para fazer isso as empresas desenvolvem junto com o grupo um storytelling (narrativa), um conceito e uma marca. A partir dessas definições todo o resto vai ser definido, figurinos, coreografias, shows, programas de TV e é mais fácil criar identificação com o público.

Os conceitos mais básicos são o “sexy” e o “fofo”, existem muitos outros. “Escolar”, “humorístico”, “terror”, “fantasia”, “retro”, “esportivo”, “futurista”, “glamoroso”, “romântico”, “amor unilateral”, “poderoso” e “Girl Crush”, que retrata uma mulher mais independente e forte. Dentro de cada conceito, uma narrativa pode ser elaborada ou não. O "EXO", por exemplo, é um grupo que criou um conceito quando se lançou. Os MV’s (clipes), álbuns, letras e conceitos estético seguiam o tema de uma história em que cada integrante tinha um poder.

Alguns grupos se atentam ao conceito e a marca mais definida no início da carreira, para chamar atenção do público e se manter memorável. É mais fácil se lembrar de alguém se seu rosto está relacionado a uma história. Depois é comum que isso se modifique, já que cada integrante e o grupo todo passam a conhecer mais os fãs e si mesmos no decorrer da carreira.

Outra característica importante são as logos e cores de cada grupo. Mas isso geralmente é definido depois do debut. Cada grupo tem uma cor oficial, alguns integrantes também podem ter cores e até outras designações, como flores, frutas, estações do ano ou hora do dia.

Créditos: PANTONE/ Divulgação

PANTONE fez parceria com a empresa SM Entertainment para lançar oficialmente as cores dos seus artistas em 2019

O "BTS" é atualmente o maior sucesso do K-pop. Mas nada foi um acidente, pelo contrário, o grupo desenvolveu e seguiu uma estratégia de marca e conceito bem estruturada. Eles criaram um personagem para cada membro e uma história para como o grupo se conheceu. E a contam desde o primeiro álbum através das músicas, clipes e redes sociais. Mas eles não entregaram tudo de bandeja e deixaram teorias para os fãs desvendarem essas histórias.

Mesmo quem não acompanhava com afinco conseguia entender o conceito do grupo. Jovens sonhadores e revoltados contra uma sociedade injusta. Essa forma de expressão, aliciada ao talento, chamou a atenção, pois na verdade representa os valores do grupo genuinamente até hoje, mas de forma mais madura. É interessante que quanto mais os membros e a empresa expõe o processo de criação, mais os satisfeitos ficam os fãs. O grupo também tem seus personagens, criados por eles mesmos, transformados na marca BT21 e comercializados em todo o mundo, inclusive no Brasil, pela Tilibra.

A construção de uma marca forte nas redes sociais foi um catalizador para o sucesso de muitos grupos, principalmente no mercado internacional. Ao se conectar diretamente com os fãs, a marca pessoal de cada grupo se espalhou como propaganda boca a boca. Mas a parte física da marca que o K-pop cria, com pequenos detalhes, como as cores, permite que o fã associe produtos que consome no dia a dia ao grupo. É uma estratégia muito interessante.

Depois de se acostumar com essa cultura de consumo, os fãs desenvolvem conceitos para o grupos de forma pessoal e criam sua própria versão da narrativa. As fanfics (abreviação de fan fictions, ficção do fã), por exemplo, são histórias escritas por fãs, que misturam ficção a um personagem/artista/celebridade, ela não são exclusividade do K-pop, mas se tornaram muito populares entre fãs mais novos. Os vídeo no youtube que descrevem os integrantes dos grupos também refletem essa forma de perceber o artista a nível pessoal, uma característica marcante e importante do K-pop.

KOYA do BT21

Marca, Conceito e Storytelling

Créditos: SM Entertainment /Divulgação

A regra é: tudo é um produto. Todo produto será desenvolvido em sua capacidade máxima.

Artistas masculinos da empresa BigHit: Cantor solo Lee Hyun, Grupo BTS e TXT, ordenados por altura.

Estética da Perfeição

Créditos: BigHit/Divulgação

Clipe < MV

Os clipes, chamados de Music Video, e abreviados para MV, são super produções, no mínimo, e indispensáveis para um bom lançamento. Isso porque o K-pop é considerado um produto audiovisual (arte musical e arte visual).

As cores marcantes são o primeiro aspecto que vem à mente, mesmo que o conceito seja mais sóbrio, pelo menos um videoclipe do grupo vai ter essa característica. Sendo assim a psicologia das cores é muito usada e fundamental.

A primeira vista um MV parece ser composto de: coreografias sincronizadas, figurinos bizarros, histórias desconexas, locações exuberantes e cenários complexos, tudo isso batido em um liquidificador de dinheiro. E é isso mesmo. Mas para fãs mais atentos, teorias se desenrolam e conectam os menores detalhes, cada frame é uma dica. Muitos grupos deixam em seus trabalhos uma caça ao tesouro de significados.

CD < Álbum

O antigo e conhecido CD se transformou em Álbum e um lançamento pode ter várias versões, que se tornam itens colecionáveis. Seus diversos formatos acompanham cartões (cards) sortidos com fotos dos Idols, páginas com as letras, ensaios fotográficos, cartas de agradecimento, e o que mais a criatividade, e orçamento, permitirem. Mas a maioria ainda tem o formato de um livro (literalmente um álbum).

No meio disso tudo o disco óptico (CD) acaba ficando esquecido, já que a atualmente os fãs usam mais a internet para acessar as músicas. Mas não pense que a antiguidade é dispensável ao pacote.

Em 2017 G-Dragon, rapper e líder do grupo BIGBANG, lançou seu mini album (EP), intitulado “Kwon Ji Yong”, seu nome de batismo, em formato de Pen Drive USB. Por causa disso na hora de contabilizar as vendas, a Associação de Conteúdos da Indústria Musical Coreana, desconsiderou o álbum como “formato físico”, visto que o pendrive só permitia acesso a um link com o conteúdo exclusivo e não o carregava diretamente. O resultado? O álbum digital mais vendido de 2017 por um artista coreano. No ano seguinte ele passou a ser contabilizado como “álbum físico”.

Rechear álbuns, performances e MVs só de cores e conceitos não é o suficiente. No fim das contas os fãs estão ali para ver e rever, até à exaustão, apenas um produto: o Idol. Pode parecer ofensivo ou insensível afirmar que um ser humano é o principal produto estético a ser consumido, mas não é mentira, como explicado acima, existem até integrantes responsáveis
pelo papel de “visual”, “face” e “center” em um grupo, mas todos estão sendo
observados (e consumidos).

Para debutar e depois fazer sucesso, os artistas precisam se enquadrar em padrão rígido,
que vai além de guarnições, como roupas, acessórios e maquiagem, desenvolvidos
sob medida por uma equipe. A imagem do Idol precisa ser polida, educada, gentil e se
encaixar com sua posição e conceito dentro do grupo. A noção de que os artistas
“pertencem” a seus respectivos fãs e devem agradá-los a qualquer custo, perdurou
por anos e ainda está longe de ser completamente derrubada. Além disso, a forte
ditadura estética que permeia a Coreia do Sul, os atinge ainda mais.

O “padrão” de beleza, sul-coreano exige pele clara e hidratada, rosto pequeno e
com feições delicadas, olhos grandes e nariz fino, o que explica a alta taxa de
cirurgia plástica no país e nessa indústria. Espera-se que as idols femininas sustentem
em pernas finas, no máximo, 50 Kg e a medida não é muito diferente para os meninos.

Felizmente, depois de anos de repressão, alguns artistas não estão mais se
transformando com esses padrões e expectativas. Hwasa, do grupo "Mamamoo", por
exemplo, está se destacando por protestar abertamente contra essas concepções. Em um
processo árduo, grupos e empresas, têm se desprendido, lentamente, de uma imagem
tão rígida e utópica e concentrando-se na estética artística apenas nas performances.

Pessoa > Produto

O álbum "Pink Tape" (2013) do grupo f(X) foi eleito como melhor álbum de K-pop da década pela Billboard em 2019. Créditos: SM Entertainment/Divulgação

Créditos: Raquel Paiva

Álbum "I Am You" (2018) do grupo Stray Kids

Estética da perfeição

Hwasa do grupo "Mamamoo" está quebrando padrões de beleza e desafiando conceitos sobre o comportamento feminino na sociedade coreana. Na camisa, colagem da capa do álbum "Limitless" (2017) do grupo NCT 127.

"se eu não me encaixo nos padrões de beleza dessa geração, então vou ter que me tornar um padrão diferente" - Hwasa

Hwasa interpreta uma presidente, uma dançarina e uma mãe no MV de "Hip"

Namjoon do grupo "BTS" é conhecido por não se encaixar nos padrões de beleza coreano e por usar isso para inspirar seus fãs a se amarem sem restrições.

"Ninguém nasce feio, nós apenas nascemos em uma sociedade julgadora" - Kim Namjoon

[MV] ORANGE CARAMEL '까탈레나(Catallena)' Music video

Coreografias

Coreografias

Talvez um dos maiores diferenciais do K-pop seja a importância dada a dança. Não é tão comum que artistas ocidentais dancem enquanto cantam em todas as suas músicas. Quando o fazem são considerados artistas versáteis e alcançam grande sucesso, como é o caso de "Beyoncé", "Michael Jackson", "Justin Timberlake", entre outros. Já no que K-pop isso é essencial, poucas músicas não são coreografadas e se um idol não consegue dançar, provavelmente vai participar de uma banda, com instrumentos, não de um grupo. Note que essa diferença é gritante para um fã de K-pop: grupos dançam e cantam, bandas tocam e cantam. Quando jornalistas e apresentadores chamam um grupo de banda, por exemplo, são taxados de despreparados e incompetentes.

A importância da dança no K-pop é igual a do canto, não é um complemento. Como explicado acima, existem nos grupos pessoas responsáveis pelo papel de dançarino principal, mas todos devem dançar. Inclusive podem ser criticados se não o fizerem bem. Um outro aspecto que mostra a relevância da coreografia são os programas de competição musical e reality shows, onde alguns grupos são formados. Existem categorias que os competidores precisam se destacar? a vocal, a de rap e a de performance, que é a dança .As coreografias também fazem parte do conceito estipulado para o comeback. Muitas vezes incluem uma história.

Colaboração especial entre Sunmi e Taemin para o "MAMA Nominees Special" (2019), com suas músicas "Gashina"(2016) e "Move"(2014), respectivamente, ambas ganharam o prêmio de melhor performance solo no MAMA, maior premiação do K-pop. Os dois artistas são considerados uns dos melhores dançarinos da Coreia do Sul.

Apresentação do grupo "SF9" em um programa de sobrevivência "d.o.b. dance or ban" (2016) para formação do primeiro grupo masculino da empresa FNC. A coreografia impressionou os jurados pela criatividade e dificuldade.

Apresentação do grupo "The BOYZ" no reality shows de competição "Road to Kingdom" (2020). O grupo se destacou pela complexidade e narrativa nas coreografias.

Batalha de Dança entre "Got7" e "Ikon" no reality show "YG vs. JYP" (2013). Acrobacias são marca registrada de grupos masculinos da JYP.

Uma característica “acidental” do K-pop são os “dance practice”, vídeos dos ensaios que os artistas postam. O grupo “SHINee” fez o upload do ensaio da música “Lucifer”, uma das mais famosas e elaboradas coreografia do grupo, e os fãs gostaram muito, e depois disso virou uma tradição do K-pop. Hoje em dia esses vídeos são muito mais elaborados, às vezes até lançam, além do "dance practice" mais simples, uma segunda versão do clipe original chamada de versão performance, focada em mostrar a coreografia.

"Dance Practice" de "Lucifer" (2010) do Grupo "SHINee". A sala de ensaio com fundo de céu se tornou icônica

Versões de Dance Practice de "ICY" (2019...

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ITZY "ICY" Dance Practice (Random Speed Ver.)

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ITZY "ICY" Dance Practice (Thank you MIDZY Ver.)

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[CUTE VER.] ITZY - 'ICY' VERTICAL DANCE PRACTICE (8D AUDIO)

Esses ensaios são uma ótima ferramenta de vínculo entre o idol e o fã. São gravados nas salas de ensaio, com uma câmera amadora, som simples, sem figurinos e produção, o que o torna mais intimista. Mas também mostra o processo de ensaio e dia a dia dos artistas. Existem algumas versões em que eles fazem pegadinhas, usam fantasia no Halloween, aumentam a velocidade da música, ou trocam de posições, para fazer uma brincadeira com os fãs.

Os “dance practice” também ajudaram a fortalecer a cultura de cover do gênero. Para o fã que gosta de dançar, aprender a coreografia direto com o idol também forma um vínculo. Com a moda dos desafios de internet houve uma repaginação dessa relação, mesmo não sendo cover ou dançarino amador, muitos fãs reproduzem a dança no Tik Tok ou Instagram, o que difunde ainda mais o K-pop na internet.

DNA DO K-POP

Um Manual para entender o gênero musical que está se tornando uma subcultura mundial

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ITZY "ICY" Dance Practice

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