
“A KoreaIN é a primeira revista brasileira especialmente dedicada à cultura coreana. Desde 2012 tem o objetivo de tornar-se uma fonte confiável de informação, com um certo toque de diversão. Esperamos nos tornar uma ponte sólida entre o Brasil e a Coreia, onde nosso trabalho é conectar e difundir ambas as culturas.”
- Trecho do editorial da revista online KoreaIn
A KoreaIn começou como um TCC (trabalho de conclusão de curso) da aluna de jornalismo e fã de K-pop, Naira Nunes, em 2012. O projeto era uma revista impressa sobre cultura coreana criada para trazer informações em português para os fãs brasileiros que não tinham tanto acesso na época. Oito anos depois é um dos maiores portais de notícia sobre o assunto no Brasil. No site, o editorial entrega suas raízes jornalísticas com os dizeres: “sob o conceito de 'conectar culturas'. A revista trará todos os assuntos de forma clara, imparcial e objetiva em um formato ‘clean’”.
Caroline Yuri de Souza Akioka, 27 anos, juntou-se como sócia quando ainda estava no começo da faculdade de jornalismo. O objetivo era criar um portfólio. “Na época eu tinha um blog com coisas que gostava, tipo um pouco de moda e beleza, eu achei que a KoreaIn seria um bom ponta pé inicial. Aí foi profissionalizando, foi cobrando mais do meu tempo e a KoreaIn foi crescendo. Eu acabei me apegando muito”, resume Carol. Porque ela não chegou a terminar o curso, não se intitula jornalista, mesmo sendo exatamente o que faz, humilde ela diz: “Eu me considero criadora de conteúdo da revista, mas o cargo mesmo é de diretora”.
Hoje ela consegue trabalhar integralmente com a KoreaIn, mesmo que o acesso seja gratuito e o site exija constante investimento. Ela explica de onde vem o ganho: “alguns anúncios, a parte de monetização do Youtube, serviços de assessoria de imprensa que a gente presta para eventos e artistas. Essa somatória de tudo acaba que a gente consegue se sustentar, mas ainda não é o suficiente que a gente se sinta realizada”.
A revista, assim como outros veículos jornalísticos atuais, está em constante adaptação ao hábitos de consumo de informação na Internet. A KoreaIn bate ponto em todas as principais redes sociais, Twitter, Facebook, Pinterest, Instagram e Youtube. Carol conta que a preferida do público é o Instagram. "Infelizmente tem gente que pega a notícia no Instagram e não migra ‘pro’ site para conferir a matéria completa, só veem a foto com a manchete e é isso que acabam consumindo”, explica. Percebendo isso, as sócias desenvolveram novas estratégias para para informar uma geração cada vez mais visual, uma delas é usar memes para explicar alguma notícia.
Akioka revela os planos para o futuro. “Hoje a gente é o canal brasileiro no Youtube que mais tem conteúdo com artistas coreanos, a gente pretende manter essa marca e continuar crescendo né.”, diz otimista. Esse ano os vídeos passaram a contar com legendas em inglês, o objetivo é manter a qualidade do conteúdo ao mesmo tempo em que aumenta o público. “Para que a gente consiga ter uma monetização maior e quem sabe futuramente ter mais alguns funcionários fixos e não voluntários”, explica. Hoje a equipe conta com aproximadamente 15 voluntários que dividem funções no site e redes sociais, seja redigindo textos, editando vídeos ou cuidando do design.
Ainda que a KoreaIn seja tão presente nas redes, com uma linguagem descontraída para seu público jovem, existe o cuidado de levar informações checadas. Mesmo o editorial é bem claro sobre a mistura de entretenimento e jornalismo. “O objetivo de tornar-se uma fonte confiável de informação, com um certo toque de diversão”, mostra o texto na página “Sobre nós” do site. Carol completa dizendo: “é por isso que a gente tenta resumir da melhor forma a matéria na legenda do Instagram e quem quer ver, acessa o site que lá tem a matéria completa”.
Ela diz que o processo para publicar uma notícia geralmente envolve tradução do inglês ou coreano. “A gente acaba apurando por outros veículos de comunicação, temos uma lista dos que realmente são confiáveis e tem credibilidade, porque se for no Twitter tem muitos rumores e tal, então a gente não utiliza isso como fonte”, ela esclarece. Carol conta que já aconteceu de conseguir entrar em contato diretamente com a fonte, mas que isso é raro. É comum as agências dos artistas já tenham selecionadas as mídias, e até os jornalistas, a quem vão contatar. Akioka explica porque: “é muito difícil por diversos motivos, seja por proximidade com a empresa, às vezes idioma, fuso horário também influencia muito, então acaba sendo complicado apurar a notícia diretamente da fonte quando a gente tá aqui no Brasil”.
Apesar dessas barreiras, a KoreaIn já entrevistou diversos grupos de K-pop e atores coreanos com exclusividade, seja a distância ou não. O processo para ganhar espaço e confiança com as agências foi evoluindo com o crescimento da revista. Carol conta que depois da sua primeira viagem para a Coreia ela conseguiu produzir muito conteúdo o que acabou chamando atenção das agências. “Acho que as empresas enxergaram na gente uma possibilidade de divulgação do grupo e do evento deles”, pontua.
A revista passou a ser a mediadora das mensagens que artistas mandavam para as fãs brasileiras. Como o público de K-pop é muito específico, ter um mídia especializada facilita essa conexão. Depois de alguns anos construindo uma lista de contatos, a equipe conseguiu a primeira entrevista pessoalmente em 2016 com o grupo UNIQ. “Acabou acontecendo, eles estavam fazendo show aqui no Brasil, a gente estava divulgando bastante e deu certo da gente criar uma pauta boa, que tanto a produtora [do show] como a agência do grupo, se interessaram”, conta Carol.

Memórias de uma K-popper Profissional

Carol conta
"Music Bank" é um programa de TV musical sul coreano da emissora KBS transmitido em mais de 100 países.
"Dream Concert" é um dos maiores festivais de K-pop da Coreia do Sul. Todos os anos, reúne os artistas mais populares para um super show.
Créditos: KStarHK/ Divulgação

Integrantes do NCT na famosa escadaria da Seoul Fashion Week
A Seoul Fashion Week acontece duas vez por ano, em março e outubro, as parceiras tiveram a oportunidade de cobrir a de em outubro de 2017. Ela deu mais detalhes sobre o dia no canal de vlog que divide com Naira, o “Carol&Naira Daily”. “A expectativa e realidade são diferentes, mas foi uma experiência muito boa”, revela Carol e brinca que é uma caipira porque ficava impressionada com tudo. Ela conta que se sentiu muito especial com oportunidades que jornalistas de grandes mídias já estão acostumados, como sentar na primeira fileira em um desfile e visitar o Backstage.
Foi também a primeira oportunidade de ver artistas coreanos de grande renome, como DAWN, Leeteuk e eunhyuk do Super Junior, KEY do SHINee, o ator Lee Jong Suk e o grupo NCT. Naira até chorou quando viu o NCT. As sócias estavam cercadas de grandes mídias coreanas, muito bem conhecida pelos Kpoppers, como a Dispatch, e eram as únicas representantes da mídia brasileira ali. Elas acabavam chamando atenção dos artistas porque o equipamento delas era pequeno em vista das grandes câmeras profissionais portadas pelas outras mídias e fãs, que costumam montar escadas e banquetas perto da grade de proteção para conseguir uma boa foto do artista favorito.
Um episódio inusitado narrado por Carol, foi a uma staff que presumiu que elas eram fãs entre os outros jornalistas em uma área restrita, ela chegou a chamar uma supervisora para conferir as credenciais.
Além do deslumbre Akioka ressalta outros aspecto marcante. Ela percebeu uma diferença entre as personalidade que o público coreano e brasileiro valorizam. Enquanto elas se emocionaram ao ver Idols de K-pop e atores do seus dramas favoritos, ouviam comentários de outros jornalistas preocupados em cobrir apresentadores de TV. ”Experimentar essa diferença cultural e de como cada mídia cobre cada assunto foi muito importante, eu nunca vou esquecer” diz ela, claramente animada.
Dongdaemun Design Plaza (동대문 디자인플라자), complexo multiuso onde acontece a Seoul Fashion Week. Créditos trouvaille/T

K-pop em Quarentena
Carol diz que a pandemia não alterou tanto a rotina dela e nem da equipe da KoreaIn, pois todos já trabalhavam em Home Office. “Eu acho que o que mudou é que o pessoal tem consumido mais conteúdo online então a gente tem, entre aspas, essa 'pressão' e necessidade de oferecer mais conteúdo para eles”, aponta a diretora da revista. Se antes a equipe alimentava as redes sociais duas vezes por dia, hoje a demanda pede atualizações de quatro a cinco vezes. Outra área afetada foi a prestação de serviços de assessoria de imprensa para shows, visto que todos foram cancelados. Apesar de triste, ela afirma: “mas a gente entende que saúde é em primeiro lugar e nós teremos outras oportunidades de trabalhar com eles”.
Na visão dela, os artistas de empresas pequenas são os mais afetados. “A gente vê que eles sofreram mais com a pandemia, porque turnê é o jeito mais simples deles conseguirem dinheiro, já que não vendem tantos álbuns como os grupos maiores.”, explica. A estratégia foi adaptar a conexão com os fãs através de conteúdo online exclusivo e pago. Akioka aponta que mesmo grupos grandes começaram a postar mais. “A gente vê o crescimento de conteúdos no TikTok, Youtube e Vapp (aplicativo exclusivo de K-pop), coisa que eles não faziam com tanta frequência antes e agora faz parte do trabalho deles”, destaca.
No fim, esse cenário pode ser bom ou ruim, dependendo do contexto do fã. Para quem tinha mais acesso ao seu grupo preferido, de pertinho, com certeza foi horrível passar um ano sem vê-los, afinal nada se compara ao contato pessoal. Mas para fãs que raramente teriam essa chance, por morar longe, como os brasileiros, ou por questões financeiras, a quarentena foi uma oportunidade de ver seu artista com mais frequência, mesmo que através de um tela. Para as empresas, Carol conclui: “inicialmente teve impacto negativo, mas se eles fizerem uma boa análise e bom planejamento, eles conseguem reverter e acabar conquistando novos admiradores”.

Carol conta
Fã de Carteirinha
Em sua primeira viagem para a Coreia do Sul, em 2016, Carol cobriu o showcase de lançamento do álbum do grupo "Exo" e a primeira música apresentada se tornou marcante para ela. "Foi um ponto de virada na minha vida pessoal e profissional", diz ela sobre a viagem marcada pela música "Heaven". Clique aqui para conferir outras "carteirinhas"