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K.O. E O CEO DE CABELO COLORIDO

Como um Fã fundou sua produtora cultura baseada em sua experiência com K-pop

Segundo dados levantados pelo IBGE, entre 2014 e 2018 houve um aumento de trabalhadores “por conta própria” no setor cultural de 32,5% para 44%. Lucas Jotten, um paulistano de 26 anos, que começou a criar sua produtora cultural aos 17, faz parte dessa mudança. Mas o que o termo “conta própria” usado pelo instituto de pesquisa, realmente representa na prática? E o que K-pop tem a ver com isso? 

 

É difícil para Lucas resumir a empresa que criou, a K.O. Entertainment, em apenas uma função, pressionado ele diz: “o que a gente faz na K.O. não tem nome no mercado, mas no fim é produzir cultura, então nada mais certo que dizer ser uma produtora cultural”. A dificuldade de se encaixar em uma definição acontece porque a empresa surgiu atendendo demandas, que se multiplicavam e exigiam cada vez mais variações de serviços para um público muito específico no Brasil, os fãs de K-pop.

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Quem, Quando, Como e Por que Em 2 Minutos e Meio

K-POP DANCE TOURNAMENT

Um dos projetos mais importantes para o desenvolvimento da K.O. é o KDT, sigla para Kpop Dance Tournament (Torneio de Dança de K-pop). Foram nove edições e da primeira, em 2014, até a última, em 2018, a qualidade profissional dos competidores e jurados aumentou expressivamente.

 

Tudo começou em um ponto chave para a cena do K-pop no Brasil, o Centro Cultural de São Paulo, na Vergueiro. Jotten era um dos vários covers que ensaiavam lá e conta que a comunidade K-popper aos poucos se apropriou do espaço, mas não havia reconhecimento da administração em fomentar esse encontros. Depois da oportunidade de alguns grupos se apresentarem na semana de dança, ele se animou e apresentou um projeto de evento para o CCSP, que apoiou de primeira.

 

Um ano mais tarde, em parceria com a secretaria da cultura e uma equipe formada por voluntários, o primeiro KDT aconteceu na maior sala do centro. Era o começo oficial da K.O. Entertainment como uma produtora de eventos. A competição premiou os três primeiros colocados e um grupo em destaque. O prêmio, além do troféu, variava de aulas de dança, álbuns de K-pop, cesta de presentes, photoshoots e camisetas. Bem diferente da premiação de R$5.750 distribuidos para seis categorias, de dança e canto, na última edição, em 2018.  Jotten não esperava uma segunda edição, muito menos nove, mas atribui o sucesso do KDT ao fato de entender as necessidades do público, já que fazia parte dele. 

Créditos: K.O. Entertainment/ Divulgação

Teaser da primeira edição do KDT, em 2014. 

Em 2016 o KDT trouxe, pela primeira vez ao Brasil, uma rapper feminina coreana, Grace, que além de compor o corpo de jurados também realizou um showcase. Em 2017 foi a vez do grupo de K-pop, Blanc7, e em 2018 a Rapper Nada, que além de participar do KDT e realizar um showcase e um Fanmeeting, chegou a gravar um clipe com o grupo EVE, da K.O. Entertainment.

Mesmo sendo um evento pago, o preço sempre foi o mais acessível possível, pois a ideia sempre foi manter um espaço culturalmente democrático. Um ingresso para a 9ª edição, por exemplo, variou de R$50 (KDT) a R$160 (KDT, showcase e Fanmeeting). Mesmo se equilibrando entre pequenos patrocinadores e mão de obra voluntária, Lucas começou a acumular dívidas. O evento aconteceu duas vezes ao ano, até 2018, quando Lucas subiu emocionado no palco para anunciar uma pausa antes da décima edição, que ainda não aconteceu. 

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Teaser da 7ª edição do KDT+ Showcase da Rapper Grace

Tease da 9ª e última edição do KDT + Showcase e Fanmetting da Rapper Nada

Teaser da 8ª edição do KDT + Showcase do grupo de K-pop Blanc7

Créditos: K.O. Entertainment/ Divulgação

Créditos: K.O. Entertainment/ Divulgação

Créditos: K.O. Entertainment/ Divulgação

KrescimentO

A falta de tempo e recursos pesaram para Jotten, desde então não sente ter evoluído tanto na vida profissional. “A questão desde 2017, que foi quando o KDT começou a cambalear, foi porque eu e a K.O. entramos em uma inércia, de uma forma ruim, sinto que a gente está no mesmo espaço”, diz reflexivo. Um dos motivos para isso foi justamente o crescimento inesperado e rápido da empresa. Enquanto seu fundador era jovem e ansioso em atender demandas de uma comunidade que amava.

 

Apesar de se sentir estagnado, Lucas ampliou muito sua área de trabalho. A K.O., que começou para satisfazer o próprio criador, com eventos de cover, passou a produzir baladas temáticas, como a “Down to Play”; Festivais de K-pop, como “KO Festival”, “Annyeonghaseyo Korea”, “AGF” e “Av. Kpop” e muitos outros encontros de fãs e participação em eventos de cultura oriental, como o “Anime Friends”. Logo um canal de comunicação era inevitável e recheá-lo de conteúdo também. 

 

A equipe voluntária cresceu, alguns ficaram tão envolvidos que passaram a trabalhar integralmente com Lucas, dividindo lucros e responsabilidades. A empresa começou a ganhar outras proporções, não era mais só produtora de eventos. Ele ressalta várias vezes durante a entrevista: “tudo foi um processo muito natural, na verdade eu virei um empreendedor por amor ao que eu fazia e não querer que aquilo parasse”. Quando percebeu, estava trazendo artistas de K-pop para o Brasil, não sendo o suficiente, ele começou a lançar seus próprios artistas.

Idol School

High Hill

As três edições do Idol School foram criadas, no formato de Web Reality Show, para simular “programas de sobrevivência” de K-pop. Mas as audições, provas e o resultado final do grupo eram para valer. O High Hill foi o primeiro grupo formado pelo programa em 20XX. As cinco integrantes assinaram com a empresa, produziram músicas e videoclipes e seguiram uma rotina de show até seguirem o seu próprio caminho. Antes de sair da empresa ainda participaram do processo de formação do segundo grupo, o EVE. 

Crédito: Raquel Paiva

Créditos: KOR/ Divulgação

Mari, Egla, Ray, Demetria e Aya, em ordem de aparição.

Créditos: K.O. Entertainment/ Divulgação

MV gravado com a Rapper coreana Nada, no Brasil, com a formação completa do grupo. Nana Prado, Isabela, Anne, Emma, Genaro, Gabi, Midori e Nada, em ordem de aparição.

A segunda edição do Idol School tinha como intuito criar um grupo temporário que unia além das cinco competidoras, Emma, Anne, Isa, Nana e Gabi, uma integrante do High Hill, a Aya e duas youtubers, Thais Midori e Taís Genaro. Elas fazem parte, da intitulada pelos fãs, K-pop gang, o conjunto de três canais brasileiros do youtube sobre a Coreia do Sul, formado pelas duas e Iago Aleixo. Este que também é parte de um grupo inspirado em K-pop, o WIBE. Eles chegaram a fazer uma colaboração com o EVE durante o programa, a música “Não Para”. Enquanto o Web Reality era transmitido pela K.O. os três também alimentavam seus canais com conteúdo complementar, criando assim uma rede que divulgava para 2,10 milhões de inscritos no total. 

 

A estratégia deu tão certo que os fãs não queriam o fim do grupo. Depois do lançamento do clipe “Fogo e Ar” e “Não Para”, a K.O. anunciou a formação oficial do EVE com as cinco integrantes. Midori e Genaro participam eventualmente de lançamentos e Aya saiu da empresa.

Crédito: K.O. Entertainment/ Divulgação

Com um proposta nova, o Idol School 3 terminou as gravações em fevereiro, mas foi lançado no meio da pandemia em julho. Diferente das outras edições, não aconteceram audições, os sete participantes foram selecionados por Lucas e já eram profissionais, com exceção de Gustavo Kawashita, o youtuber da edição, que já era dançarino amador. O conceito do grupo temporário também foi inovador e chamou a atenção dos fãs.

 

 O primeiro boygroup lançado pela produtora contava exclusivamente com membros da comunidade LGBTQ+. O nome escolhido “All G” é uma alusão à gíria “auge” ao mesmo tempo que significa All = “Todos” e G = Gays, Girls, Guys, Gostosos e o que mais a diversidade permitir. Enquanto o EVE teve um mês para lançar um clipe, o All G, lançou três, no mesmo período de tempo, dois deles são colaborações entre grupos da produtora, EVE e Paradyzo.

Crédito: KOR/ Mateus Gouveia

Créditos: KOR/ Divulgação

MV de Higher, o desafio era dançar com salto alto. Lucas Olly, Davi Olliver, Gu Kawashita, Thiago Tang, Dener Clinsman, Zayah e Kaíco em ordem de aparição

Jotten além da K.O.

Um dos traços mais marcantes de Lucas é a sinceridade com a qual lida com seu trabalho. Ele não tem medo de expor suas dificuldade, dúvidas e vulnerabilidades. Talvez falar mais abertamente sobre saúde mental e estabelecer limites seja uma característica de sua geração. Quando ele está em ação é fácil esquecer que o mercado ao seu redor é liderado por pessoas mais velhas e menos sensíveis. Mas de certa forma o choque de realidade que enfrenta quando está com essas pessoas, o lembra de seu valor profissional e de que ele não é mais um adolescente brincando de K-pop. 

 

Jotten conta que um desses choques aconteceu em 2018. Ele foi convidado pelo governo sul coreano para participar do curso “ICT Expert Training Program”, sobre produção e distribuição de conteúdo broadcasting. Depois de ser indicado por uma das empresas coreanas com a qual trabalhou, ele passou por um processo que selecionou apenas 15 profissionais da área de comunicação e produção de todo o mundo para a viagem de três semanas à Coreia do Sul, com todas as despesas pagas. Mesmo sendo o aluno mais novo, por uma grande diferença de idade, ele recebeu bastante atenção dos colegas e professores. Foi uma das primeiras vezes em que reconheceu sua competência.

 

Ele diz que foi um tempo de grande aprendizado, mas também de muita dificuldade. Apesar de sua voz ser ouvida e levada sério, no começo a maioria das pessoas duvidavam de seu cargo de presidência. A comunicação, já dificultada pelo inglês estrangeiro de todos, ainda tinha baques com o abismo entre gerações. Mas provavelmente a parte mais difícil foi lidar com a própria insegurança, somatizada em ataques de ansiedade e pânico, que precisavam ser controlados externamente. “Sinceramente foi bom porque foi horrível”, resume bem humorado. Hoje Lucas entende que esse medo vinha justamente de não ser reconhecido, e muitas vezes até desvalorizado, constantemente durante seus trabalhos no Brasil.

Teclado de Computador

Confira os vlogs do canal do Jotten durante esse intercâmbio.

Como Consegui Minha Bolsa de Estudo na Coreia | ICT Expert Training Program
PERDI MEU VOO PARA A COREIA DO SUL! | Começo do meu Curso de Broadcasting
Primeiros dias do meu Curso na Coreia do Sul | Aulas de Licenciamento e Reality Shows
Aulas Práticas de Gravação na Coreia | Trabalhando com Pessoas de Países Diferentes
Onde Estudei na Coreia do Sul | TongYang Creativity Center
Meu Último dia no Instituto | Trabalhos do meu Curso na Coreia
Briguei com meu grupo de trabalho na Coreia do Sul | Aulas de Drone
Tchau Coreia do Sul! Reflexões da vida | Fim do Curso de Broadcasting

Profissional Efêmero

Lucas escolhe a palavra “momentos” para se definir. Em uma luta diária e exaustiva contra a ansiedade e depressão, ele tenta aproveitar as oportunidades do agora ao máximo, sem se preocupar muito com o passo seguinte. Foi a forma que encontrou de se manter ativo, mas às vezes o tiro sai pela culatra. “Eu não tenho um meio termo. Ou eu não faço nada e entro em um estado de inércia, ou eu sou um workaholic que não para de trabalhar”, revela. 

 

Depois de mais alguns choques de realidade, como o de 2018, ele está em um processo de aprender a estabelecer seus limites, para proteger não só sua saúde mental, mas seu próprio valor de mercado. “Estou em um tempo de reflexão, mas tudo isso surgiu em um momento de valorização do profissional”, diz Lucas.  

 

A construção da carreira foi um processo muito orgânico e um pouco fora da ordem comum. “Não foi nem minha profissão que definiu minha faculdade e nem minha faculdade que definiu minha profissão, como tudo na minha vida eu só fui fazendo e somando e ‘vamos ver onde que vai dar’”, explica. Quando se formou em Turismo na USP, em 2016, Lucas já tinha as dívidas e preocupações de um CEO. 

 

Mas durante um bom tempo o ambiente de trabalho, por florescer de um hobby, se confundia com o pessoal. Mesmo que os colegas de carreira também tenham um objetivo profissional, por causa da amizade, alguns limites são ultrapassados as vezes. “Chegou em um ponto que eu disse, ou é assim ou não, durante muito tempo tinha coisas que eu só tentava ir aguentando”, diz Jotten, que aos poucos conseguiu estabelecer regras para si mesmo e como permitiria que outros o tratassem.

Entre cuidar da sua saúde mental, da empresa do seu coração e das contas de luz, ele tenta achar uma alternativa para se posicionar melhor no mercado de trabalho. Sobre a forma como trabalha hoje, ele questiona: “uma das questões é, será que eu quero continuar a fazer isso? Não dá grana, é um desgaste e um trabalho muito intangível. Tudo que eu fiz até agora não me dá espaço em uma carreira CLT”. 

Mesmo sendo pioneiro especializado em suprir as demandas do fãs de K-pop, produzindo artistas, eventos e o maior torneio de K-cover no país, em sua concepção, a K.O. não é estruturada o suficiente para representá-lo, como um grande diretor empresarial ou produtor cultural, pois no mercado brasileiro o nicho ainda é pouco conhecido e na Coreia a indústria é muito competitiva. “O valor agregado em cada trabalho que faço, no grande mercado, tem um peso diferente. Tem coisa que ‘tô’ colocando muito mais limite por causa disso”, diz. 

 

Todos os contribuintes da empresa estão agregando valor direto a sua imagem de forma perceptível. Cada artista produzido pela empresa, está alavancando a carreira; a equipe técnica, de edição de vídeos e clipes, tem um portfólio visual; o nome de quem produz as músicas no estúdio, aparece na Ficha técnica; e mesmo os covers, que competem nos palcos, recebem o vídeo de sua apresentação, além de conquistar admiradores. “Meu trabalho de gestão e administração é muito costurando essas entrelinhas, muito invisível", explica Lucas, que não pode resumir seus esforços visualmente como os outros. Ele não tem a facilidade, por exemplo, de postar o que faz de forma simples nas redes sociais. 

 

Com o presente em constante questionamento, ele não planeja muito o futuro. “Eu não tenho muitos planos a longo prazo, não sei se a terra vai existir daqui 10 anos. Sei que mudo de interesse muito fácil”, aponta. Mas existem alguns sonhos fracionados, que o ajudam a estabelecer metas a curto prazo e enfrentar o dia seguinte. Acima de tudo ele quer estar bem. “Eu defini prioridades para minha vida, mesmo sabendo que eu vou perder algumas coisas, eu prefiro valorizar outras, sabe?”, responde reflexivo.

 

Como produtor musical, ele revela a vontade de produzir uma música com Ivete Sangalo em parceria com um dos grupos que gerencia. Já na parte cultural, Jotten quer conseguir mais espaço em grandes eventos, como a Comic Con. Efêmero, realista e sincero, sobretudo consigo mesmo, ele conclui: “têm objetivos pontuais pra cada tipo de atividade que eu quero exercer, mas como ‘Lucas’, não”.

Fã de Carteirinha

Lucas é fã de K-pop há mais de dez anos. Ele fazia covers até perceber  as demandas desse público e começar sua empresa. Ainda ama dançar e tenta manter o hobby sempre que pode. 

Confira a carteirinha de fã de todos os entrevistados clicando aqui.

Lucas Jotten

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Grupo preferidos

T-Ara e Sunny Hill

Ultimate

"Não tenho mais"

Stan desde de 

2008

Música da vida

Butterfly (K.Will)

Lucas Jotten

Lucas Jotten

Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Produzido por Raquel Paiva e Orientado pelo Profº Drº Anderson Gurgel

As opiniões e conclusões expressas não representam a posição da Universidade Presbiteriana Mackenzie
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